Não prestei atenção ao que ele dizia, limitei-me a admirar as cores, o brilho, a forma, as expressões, o sentimento dos olhos dele.
E ele compreendeu que a vontade de o observar foi maior que o dever de me conter; a tentação de não desviar os meus olhos dos dele foi superior à responsabilidade de manter a postura à frente dele.
Eu não sabia o que fazer; fugi daquilo que mais sonho, desviei-me para não perder o que tenho.
Eu não sabia o que dizer; restou-me prolongar o silêncio daquele abraço, que inevitavelmente teve que acabar, mas que foi o acto mais importante daquele dia.
Separamo-nos. Duas mãos que se mantiveram juntas, numa tentativa de evitar essa separação, eram as personagens principais.
De novo se retoma a conversa, e partilha-se uma vida numa tarde.
Hoje, ouvi que devemos valorizar não as grandes, mas as pequenas coisas, e foi o que fiz ontem. Aliás, acho que é o que faço todas as vezes com ele, involuntariamente.
De facto, tem muito mais valor um telefonema dele do que um milhão de coisinhas materiais insignificantes.
E ontem… ontem ele olhou-me como só ele sabe fazer.