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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Chegavas depois da hora.
E enquanto me vias descer a escada, fingias dar mais importância à rua, ao barulho, aos outros.
Mal olhavas para mim, mas davas-me a mão.
Subias atrás de mim. Não que não soubesses o caminho.
Mas ias atrás de mim. Davas-me a mão.
E agora sim, sem eu ver, podias olhar para mim, da cabeça aos pés, com o à-vontade que não tinhas quando esperavas do outro lado da rua, do outro lado da porta.
Entravas, sem um beijo, sem um abraço, quase sem me tocar, e davas-me a mão, até ao quarto.
Observavas tudo. Aí já não tinhas mãos para se entrelaçarem nas minhas.
Davas de novo atenção a tudo, menos a mim.
E quando achavas que eu já tinha perdido a esperança de que me visses, puxavas-me, e enquanto me beijavas, davas-me a mão.
E enquanto me seguravas, davas-me a mão.
Enquanto me guiavas pelos cantos da casa cheia de noite, davas-me a mão.
Enquanto me tinhas, dávamos as mãos.
Quando ias embora, o teu corpo fugia mas o teu olhar já não.
E a tua mão não largava a minha mão.

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